sexta-feira, 12 de junho de 2009

Filho Meu!

Lucas 15, 11-32 - Parábola do filho pródigo

A casa do Pai
A parábola começa mostrando que na Casa do Pai, a mônada espiritual vivia em harmonia, sem necessidade de prover sua subsistência da mesma forma que Adão no Paraíso! Aqui a mônada é o filho de um Pai que lhe é semelhante. Somos emanações da Divindade. O Filho na casa do Pai é semelhante a esse pai e guarda em si as potencialidades Dele. A tendência evolutiva normal do filho é crescer e se identificar com este Pai.

O despertar
Um dia, em um dos filhos, desperta o desejo do conhecimento; de tornar-se consciente de sua situação, de suas necessidades, de sua evolução, de conhecer da árvore do Bem e do Mal! Este pede ao Pai a sua Vida, para que, usando-a, adquira essa consciência.

Pedindo a Vida
As traduções da Vulgata interpretam este pedido como "herança", dando uma conotação material no pedido do filho. No texto original grego, do evangelho de Lucas, o que o filho pede ao pai é ousia (do verbo ienai que significa "ser"), parte do ser. Logo adiante, quando o pai divide os bens, a palavra é taxativa: bios o que o filho pede verdadeiramente ao pai é a Vida! Ou, numa interpretação mais atual, o Self.

Concessão
O Pai concede sua parte da Vida, para que faça dela o que em sua consciência lhe aprouver. Para que a use para o bem e para o mal, para a harmonia e para a desarmonia, para que pelo seu sofrimento, malbaratando sua vida, chegue um dia à conclusão de que a vontade da Casa do Pai é realmente a sua vontade. Para que possa um dia dizer "Eu e o Pai somo um"!

Identificação
Assim o Filho parte da casa do pai para vivenciar este eon da sua evolução, que é essencialmente o período evolutivo pelo qual todos nós estamos passando. Neste eon a Humanidade caminha para conscientemente participar da Harmonia da Casa do Pai. Saindo de casa do Pai de posse da Vida (ou Self), penetra no mundo da satisfação dos sentidos. Afastando-se cada vez mais do Todo e identificando-se cada vez mais com seu ego, com a sua persona. Assim gasta toda a sua vida, vindo a passar privações — porque sobreveio uma grande fome. Situação inevitável neste caminho descendente.

A descida
Estando já de posse da Persona, senhor da sua identidade e no máximo do seu egoísmo, ao invés de retornar à casa do Pai, busca encontrar o caminho por seus próprios meios, tornando-se empregado dos homens da região do mundo, os quais, por sua vez, o designam para cuidar de porcos imundos.

Tomada de consciência
Nesta situação de máxima degradação, busca "encher seu estômago" (esta é a expressão da parábola) com as vagens que eram dadas aos porcos. Essa associação com estes homens nem mesmo enchia sua barriga. Não busca aplacar a fome, mas encher o estômago, como alguém que ainda está identificando a si mesmo como o seu ser material. Esta é a degradação final do Ser que desceu ao fundo do poço de identificação com a matéria. Associa-se a Lúcifer (porta luz), que é o homem dessa região. Este pode ser identificado com nossa fase de materialismo, de excessiva auto-confiança, de crença cega na ciência e na tecnologia. Que tem tentado encher a barriga do homem sem jamais aplacar a sua fome.
Neste momento, "voltou-se para dentro de si" (a citação é literalmente esta) e disse: "quantos empregados de meu Pai têm pão com fartura, e eu aqui passando fome! Vou embora procurar meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teu empregados". Este é o grande momento da parábola, onde o Filho Pródigo compreende que o caminho para a sua felicidade está dentro de si. Que é por dentro de si que vai poder retornar à paz e à harmonia da Casa do Pai.
O verdadeiro despertar
É o despertar, após um atroz sofrimento. Este verdadeiro despertar vem aqui acompanhado de um sentimento puro, de dentro do coração, que pede perdão, que sabe que pecou contra o céu e contra o pai, e que humildemente não se julga mais digno de ser o filho, mas um empregado. Não tem nada mais a ver com qualquer busca de satisfação ou de realizações mundanas.

O retorno
"Partiu ao encontro do Pai!" "Ainda estava longe, quando o Pai o viu, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos". O pai o identifica à volta desde o momento inicial, mas o Filho Pródigo não está visível desde o inicio da jornada de volta. O Pai o vê ainda que muito longe! Enche-se de compaixão, lança-se-lhe ao pescoço, transmitindo-lhe o poder do verbo pela ativação do plexo laríngeo, para que possa, a partir daí, ter o poder de construir pela palavra. Aqui há uma analogia com o momento da entrada da era de Aquário, onde tem início o poder da palavra falada. Cobrindo-o de beijos, devolve-lhe a Vida que lhe faltava, por compaixão!

A recepção
O pai diz aos servos: ide depressa, trazei a melhor túnica e vesti-o com ela; ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. O pai então manda que a natureza (seus servos) o vistam com a melhor túnica, para que tenha a melhor vestimenta que este mundo lhe pode dar. Que lhe coloquem no dedo um anel, uma aliança que sele o matrimônio (que se formou na aventura) do Ego com o Eu maior. Sandálias, para que seja elevado além das coisas deste mundo de onde veio. Que matem um novilho — encerrem a era de Touro, Era do Deus terrível! Festejemos todos esta evolução!

O filho mais velho
O filho mais velho só identifica a festa de muito perto, mostrando como são pequenos seus recursos. Chamando um servo, este lhe conta o retorno do irmão e a festa do pai. É um servo do pai, a própria natureza, que honestamente lhe expõe no que ficou. "Não queria entrar e o pai saiu para suplicar-lhe". Mostrando que nunca fez distinção entre os filhos.
— "Há tantos anos que te sirvo e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um carneiro para festejar com meus amigos. Veio teu filho, que devorou teus bens com prostitutas e para ele matas o novilho cevado!" Pede um carneiro, não um novilho, e se justifica por ter cumprido a Justiça, ciclo que antecede a Era de Peixes, na qual o filho mais velho não havia sequer entrado. O Pai não pode matar o carneiro, porque isso destruiria a oportunidade evolutiva deste filho. O interessante deste diálogo é que o Filho mais velho não mais se identifica como irmão do Pródigo, e se refere a ele como "teu filho". Entende a diferença que se efetuou apenas como ligada ao desperdício dos bens com prostitutas, confundindo todo o processo de crescimento evolutivo com a simples sexualidade.

Exortação
O pai termina a exortação ao filho dizendo: "Teu irmão estava perdido e foi achado, estava morto e viveu!". De novo o pai afirma "teu irmão", não negando a oportunidade de desenvolvimento àquele que ficou. Estava morto e viveu — descobriu a vida eterna (Imanente), à qual tantas e tantas vezes Jesus se refere em seus sermões.

Somos filhos pródigos
Podemos entender como somos filhos pródigos em variados estágios da caminhada, uns mais adiante, outros mais próximos, mesmo os que inocentemente não saíram da casa do Pai, todos irmanados.



Ministrado por Tiago Souza.




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